O preconceito é uma das grandes barreiras que bloqueiam a inclusão social e profissional dos portadores de deficiência física no país. A afirmação é do presidente do Instituto Cultural e Profissionalizante de Pessoas Portadoras de Deficiência do Distrito Federal (ICP), Sueide Miranda Leite.
Ele liderou a Caminhada da Cidadania que reuniu na Esplanada dos Ministérios cerca de 100 portadores de deficiência física para reivindicar mais acessibilidade no transporte público, maior escolaridade, formação profissional e moradia.
De acordo com Leite, hoje no Brasil não se tem políticas públicas que promovam o verdadeiro processo de inclusão social dos cerca de 25 milhões de portadores de deficiência física. "Em Brasília, temos quatro leis que definem percentuais para deficientes na questão da distribuição de lotes e casas próprias. Só que nenhuma dessas leis é cumprida", denuncia. Para ele, não há uma política decente voltada para moradia no Distrito Federal.
Na avaliação de Leite, não existe crise de emprego para o portador de deficiência física no país e muito menos em Brasília. O que falta, na sua opinião, é a promoção da escolarização e da qualificação profissional de um contingente que, só na capital federal, envolve 270 mil deficientes.
"No ICP, onde 80% das pessoas não têm escolarização, são 4 mil associados e já inserimos cerca de 2.800 pessoas no mercado de trabalho", assinala Leite, lembrando que hoje existem 45 vagas disponíveis para o DF, "mas fica difícil encontrar um perfil porque as pessoas não têm o 1º grau completo". Ele reivindica uma ação do governo no sentido de promover de forma maciça a escolaridade dos deficientes com cursos supletivos e profissionalizantes.
Carlos Antonio Werneck, de 26 anos, conta que desde criança deixou de andar em decorrência de uma doença chamada espinha líquida e que hoje seu grande problema é o desemprego. "Que o pessoal que está no poder se conscientize de que a gente precisa de trabalho. Também somos gente e precisamos de oportunidades como um ser humano normal", reivindica.
Mesmo dizendo nunca ter passado por situações de preconceito, Werneck acredita que deveria haver mais acessibilidade nos ônibus, shoppings e até mesmo na rua onde os meio-fios são muito altos para as cadeiras de rodas.
Já para Washington Pereira de Jesus, de 25 anos, paralítico desde os 21 em decorrência de uma bala perdida, o principal problema é o preconceito. "Às vezes, as pessoas viram o rosto quando vê a gente em uma cadeira de rodas". Convidado para trabalhar na montagem de cadeiras de rodas da fábrica do ICP, ele também reclama da dificuldade de locomoção, principalmente para pegar ônibus. "Sempre dependo de alguém para me colocar no coletivo e também para descer e nem sempre as pessoas ajudam".
Essa situação que envolve os deficientes físicos em Brasília é confirmada pelo presidente do ICP. De acordo com Sueide Leite, a questão envolve os motoristas de ônibus e vans que não respeitam os deficientes e nem os idosos. Segundo ele, o ICP prepara uma campanha "para que esses profissionais passem a tratar com o devido respeito esses cidadãos que têm direito a gratuidade no transporte coletivo".
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