quinta-feira, 6 de maio de 2010

Maxi López nega racismo e é liberado; polícia instaura inquérito


Depois de negar, em depoimento prestado à delegada Roseli Baeta Neves, ter chamado o volante Elicarlos de "macaco", como acusou o jogador celeste, o atacante argentino Maxi López, do Grêmio, foi liberado para deixar o Mineirão. De acordo com o também delegado de polícia Daniel Barcelos será instaurado o inquérito policial para investigar se houve realmente o crime de injúria qualificada.
O delegado informou que Elicarlos, em seu depoimento, confirmou a acusação feita ainda durante o jogo em que o Cruzeiro venceu o Grêmio, por 3 a 1, saindo à frente na disputa por vaga na final da Libertadores. "Ele manteve a versão de que foi chamado de macaco, e o jogador Maxi López negou veementemente qualquer tipo de expressão nesse sentido", contou.

Ao deixar a delegacia de polícia civil do Mineirão, a 1h50 da madrugada de quinta-feira, após o depoimento prestado à delegacia Roseli Baeta Neves, Paulo Autuori confirmou ter recebido "voz de prisão". Entretanto, o técnico do Grêmio procurou minimizar o fato. Indagado sobre o motivo da sua prisão, ele foi objetivo. "Não sei e nem quero saber. Não sou um vagabundo, criminoso", afirmou o treinador, para quem está tudo resolvido.

Daniel Barcelos disse que Autuori se exaltou em um momento, mas a delegada Roseli Neves optou por relevar. "Ela entendeu como mero desabafo, que não configuraria infração penal", explicou o delegado.

Segundo ele, a presença de todos os jogadores do Grêmio na delegacia se deveu ao fato de Maxi López ter colocado os atletas à disposição da Polícia Civil de Minas Gerais para serem ouvidos como testemunhas de defesa. O policial disse que o atacante argentino está liberado para seguir normalmente a Porto Alegre.
A investigação prosseguirá, se necessário for, será expedida carta precatória para que ele seja ouvido. Não há que se falar sobre indiciamento. O que temos neste momento é a versão de um jogador contra a versão de outro, estamos iniciando a investigação que será concluída e ao final é que poderá se falar em indiciamento", comentou.

Daniel Barcelos explicou que a Polícia Civil entendeu que a situação é complicada para se fazer prova imediata. "Poderíamos ouvir todos os jogadores do Cruzeiro e todos os do Grêmio, seria a palavra de 11 do Cruzeiro contra 11 do Grêmio. Entendemos que não é necessário nesse momento", destacou.

Falta seriedade

Paulo Autuori disse ainda esperar que o Cruzeiro não espere um clima ruim no jogo da volta em Porto Alegre, na próxima quinta-feira. "Os responsáveis por isso é que devem estar preocupados, porque infelizmente já vimos esse filme, já vimos esse filme em São Paulo, não deu em nada, muita gente apareceu, acabou tudo como tudo acaba no Brasil", comentou Paulo Autuori, que já comandou o Cruzeiro por três vezes, sendo campeão da Libertadores, em 1997, pelo time celeste.

Segundo o treinador, o Brasil precisa ser mais sério. Ele disse que não conversou com Maxi López, por não ter tido tempo para nada, mas observou que situações de racismo acontecem rotineiramente no Brasil. "Temos mais coisas sérias para tratar", afirmou Autuori. Quando citou o caso de São Paulo, ele se referiu à denuncia de Grafite, então jogador do São Paulo, contra Desábato, em jogo com o Quilmes, pela Libertadores de 2005.
O supervisor do Cruzeiro, Benecy Queiroz, que acompanhou Elicarlos à delegacia, procurou tranquilizar a situação. "Nosso advogado conduziu o processo adequadamente, a polícia ouviu a posição e vamos aguardar agora o resultado. A diretoria do Grêmio entendeu a posição, o Paulo Autuori e a gente espera que tudo se resolva em paz", observou. Para Benecy Queiróz, a fala de Maxi López pode ser atribuída a um "momento impensado".

O diretor de futebol gremista, André Krieger, criticou duramente a Elicarlos. "É uma mentira deslavada desse menino, produção ridícula de um fato. Coisa dessas raposas velhas que comandam o Cruzeiro, forjando uma queixa", afirmou.

Luiz Onofre Meira, assessor do departamento de futebol do Grêmio, observou que o clima que cercou o caso não conduz com uma competição de futebol. "Tivemos de passar por um clima de insegurança, de incompreensão, os policiais usando de uma agressividade fora do comum, inclusive com situações de puxarem armas e até mesmo algemando nosso segurança que tentava contornar a situação. Isso é lamentável, que ocorra uma situação dessas entre o Grêmio e o Cruzeiro", afirmou.

Depois que Elicarlos registrou queixa de racismo contra Maxi López, policiais civis e militares cercaram o ônibus do Grêmio, que foi impedido de deixar o Mineirão, e entraram no ônibus. Depois de um impasse, Maxi López saiu acompanhado de todos os seus companheiros, do técnico Paulo Autuori e de dirigentes do clube, que se dirigiram à delegacia instalada no estádio. O jogador foi ouvido e liberado em seguida.

Segundo Luiz Onofre, o Grêmio vai para Porto Alegre consciente de que procedeu da melhor forma possível. "Buscamos o diálogo e esperamos que para quinta-feira a gente resolva esta situação dentro de campo e que o Grêmio saia de campo classificado", comentou.

"O Maxi não precisou nos falar absolutamente nada, o que nós vimos foi que aconteceu um desentendimento que é absolutamente normal dentro de um jogo. O que nós vimos foi o Maxi ser agredido por jogadores do Cruzeiro, com a conivência do árbitro auxiliar que não tomou nenhuma atitude", protestou Luiz Onofre. Ao chegar no Hotel Ouro Minas, onde a delegação do Grêmio está hospedada, Maxi López subiu imediatamente ao seu apartamento, sem dar nenhuma declaração à imprensa.

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