domingo, 2 de maio de 2010


A desigualdade social não explica sozinha o número reduzido de pretos no ensino superior. A taxa de sucesso dessa população no vestibular da Fuvest é mais baixa que a dos brancos, independentemente da classe social.
Entre os estudantes que pertencem à classe B, por exemplo, a taxa de sucesso dos pretos é de 4,9%, enquanto a dos brancos é de 7,4% (veja quadro ao lado).
Nas três carreiras mais disputadas da Fuvest -com maiores notas de corte-, os pretos compõem uma pequena parcela dos aprovados. No curso de medicina, eles são 0,2% do total, em jornalismo, 4%, e, em computação, nenhum preto classificou-se.
Os dados são da pesquisa dos sociólogos Antonio Sérgio Guimarães, 52, e Reginaldo Prandi, 55, da USP, baseada no questionário preenchido pelos 141.253 inscritos no vestibular de 2000.
Para Guimarães, "existe uma discriminação sutil que faz com que o aluno negro seja desestimulado. Ela está na escola, na família, na mídia, e é internalizada".

Cursos de elite
Os cursos superiores considerados de elite no Brasil têm menos de 4% de estudantes pretos, entre calouros e formandos, segundo levantamento feito pela Folha.
No Instituto Rio Branco, em Brasília, responsável pela seleção e treinamento dos diplomatas brasileiros, há dois alunos pretos, que são 3,7% do corpo discente.
No primeiro ano de medicina da USP, há dois alunos pretos, que representam 1,3% do total. No curso de administração da Fundação Getúlio Vargas, eles são 2% dos calouros e formandos.
Os dados foram obtidos com aplicação de questionário elaborado pela Folha. Foram utilizados os mesmos critérios do IBGE, em que a própria pessoa define sua raça. O instituto usa o termo negro para referir-se ao somatório de pretos e pardos.

Sistema de cotas
A maioria dos alunos dos três cursos são contra a proposta de cotas para negros em universidades públicas.
No Instituto Rio Branco, 51% são contra a reserva de vagas no ensino superior, 42% são a favor e o restante não respondeu.
A quase totalidade -99%- dos alunos de medicina da USP e de administração da FGV -87%- é contra a implantação de cotas para a população negra nas universidades públicas.
Para o sociólogo Reginaldo Prandi, "as cotas são um caminho artificial, mas necessário". A desvalorização do negro em nossa sociedade só pode ser revertida através da diferenciação de oportunidades na educação.
Já seu colega Antonio Sérgio Guimarães acredita que o sistema de cotas seria uma "solução muito radical". "Correríamos o risco de agravar a sensação de incapacidade do negro", diz.
O governo tem evitado esse debate e optou por investir na capacitação da população negra. O ministro da Educação, Paulo Renato de Souza, anunciou recentemente negociação de financiamento de US$ 10 milhões com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para a criação, a partir de 2002, de cursos pré-vestibulares gratuitos para negros e carentes.

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